segunda-feira, 21 de julho de 2014

Iboga: Nem droga, nem divertimento

Em alguns anos, o interesse pela iboga se desenvolveu consideravelmente do qual atesta a riqueza dos sítios que lhe são consagrados. É tudo ao mesmo tempo, uma substância onirofrênica, um remédio para a dependência (heroína, crack, cocaína, álcool) e uma planta iniciadora no Bwiti africano.
O francês Jean-Claude Cheyssial consagrou-lhe dois documentários: A madeira sagrada, em 1995 e a noite do Bwiti, em 1997. Mais recentemente, Vincent Ravalec, Mallendi e Agnès Palcheler escreveram a seis mãos Madeira Sagrada, Iniciação ao Iboga, 2004, livro que se acompanha de recomendações constantes: “a iboga não é nem uma droga, nem um divertimento...”. Estas advertências fazem-se o eco da noite dos Bwiti a propósito das virtudes curativas da planta.
Impossível de classificar com efeito a iboga nas drogas recreativas. Aos antípodos* do divertimento, ela não convida a fugir à realidade mas opera um encontro com o si mesmo, com o seu inconsciente, e com os antepassados. A sua utilização é ritual. Acompanha sempre um rito de passagem: morte do velho homem e renascimento, renunciar ao velho homem, é renunciar à sua doença ou à sua dependência. É, por outro lado, a esse respeito que apaixona a comunidade científica que se interroga sobre os mecanismos da desintoxicação das drogas.
Em 1998, Anderson emite a hipótese segundo a qual a Iboga, ingerida num quadro xamânico ou psicoterapêutico induz um estado que se aparenta ao sono paradoxal do feto, e é caracterizado pela sua plasticidade; esta permite que as experiências traumatizantes sejam restauradas e integradas.
Ora, precisamente, Michel Jouvet, biólogo especializado na fase do sono paradoxal desenvolve a seguinte hipótese: O sonho aparece como “uma reprogramação do cérebro”. Com efeito, é responsável pelo “software”; permite reconfigurar e reiniciar o sistema. Consequentemente é o vigia dos nossos programas em matéria de hábitos, de necessidade, da individualização.
Esta metáfora é utilizada nos seminários onde se toma iboga: os testemunhos falam de programação, de processos a suprimir. Um dos participantes vindo depois de uma ruptura sentimental muito difícil explica que quando deixou o sítio, era como se as conexões neurológicas relativas a esta prova tinham sido eliminadas, como se o acontecimento nunca se tivesse produzido. É uma limpeza dos circuitos neurológicos, uma espécie de redução a zero dos contadores.
Outra propriedade interessante da iboga, é a possibilidade de manipular o material imaginário que seja pelo terapeuta, o nganga ou o participante. Continua a ser possível parar diante de uma imagem, de voltar para trás, de estudar uma alternativa. Em qualquer momento, a experiência pode ser dirigida. Não há nenhuma perda de consciência.
A disposição do espírito no qual se toma a iboga desempenha um papel muito importante. Para os africanos do oeste atua num rito de passagem. A madeira sagrada permite desfazer-se dos bloqueios psicológicos e sociais acumulados durante a infância, de comunicar com meu eu interior e de obter uma direção de vida.


*Antípodo: S.m. Habitante de um lugar da Terra diametralmente oposto ao de outro lugar. 
Fig. Contrário, oposto. 
Adj. e s.m. e s.f. Oposto, antitético.

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